Embora sejam chamados de turcos, eles são sírios e libaneses que, fugindo da guerra, nos ensinaram o que é vender e muito contribuíram para o desenvolvimento do comercio de Itapetininga.
O comerciante que curava caxumba
O meu pai, Salomão Abib, veio para o Brasil em 1888. Enquanto sua irmã ficou em São Paulo, vendendo melancia na rua Santa Efigênia, ele escolheu Itapetininga para morar e negociar. Ele foi um dos primeiros libaneses a chegar por aqui. Nessa mesma época outro libanês, o Jorge Ozi, estava em Alambari, onde tinha uma carvoaria e vendia fumo. Depois de papai é que veio a Salenzada.
Em uma velha casa na esquina das ruas Aristides Lobo com a Lopes de Oliveira, onde hoje é o novo prédio do Scudeller, Salomão Abib começou vendendo verduras e legumes, tudo misturado com roupas e sapatos. Depois ele comprou o prédio em frente, o de número 49, onde havia funcionado a Beneficência, a Santa Casa e que se tornou a Casa Abib. Ele deu o seu prédio e ficou com este, assim começando a vida. Isso em 1915, perdurando até seus últimos dias em 1986.
Papai vendia sapatos, tecidos, roupas, colchas, redes do norte. Recordo que as pessoas, principalmente as mais simples, diziam: “vá comprar no seu Salomão. Ele vende tudo e vende fiado. Vende do jeito que você quiser comprar”.
Como nos armazéns ele também marcava em cadernetas. Lá papai escrevia tudo e só ele entendia já que estava escrito em árabe.
Para as famílias da lavoura ele chegava a dar prazos de um a dois anos para pagamento integral da dívida. Se a lavoura desse, pagava. Se não desse, ficava para o próximo ano. Nesse sentido papai era um homem muito bom. Ajudava a todos. Aliás, ele também curava caxumba e por isso ficou bastante conhecido. Todo mundo ficava admirado do papai curar caxumba. Para tanto fazia massagem no rosto da pessoa e puxava a orelha. Era uma técnica que só ele sabia e acabou não ensinando para ninguém. Aqui em Itapetininga ele curou muita gente. Até filho de médico.
Embora tivesse 12 filhos, somente um ficou com ele no comércio: o Taufik. Os demais foram estudar. Tanto que somente o Taufik é que não tem diploma. Mas para estudar era preciso mascatear. Julieta mascateava, Neli mascateava. Mercedes mascateava. Minha cunhada Maria também mascateava. Eu mascateava, com minha sogra, roupas em São Paulo. Com o mascate tirei o diploma de professor e fiz curso de prótese dentária.
O filho que ficou
Dos filhos de Salomão Abib que continuou em Itapetininga, no comercio, Taufik foi o único. Depois de ajudar papai durante um tempo, abriu sua própria loja, a Loja do Taufik, que ficava na esquina das ruas José Bonifácio e Saldanha Marinho. Ela era conhecida porque roupas, cobertores, relógios, tudo, era dependurado no poste e na frente. A Prefeitura dava em cima, mas ele não se preocupava. Chegou a colocar caixas na rua. Pintava e bordava. Lembro que no carnaval ele punha uma máscara preta e se punha a fazer barulho para chamar a atenção das pessoas que por ali passavam. Era uma farra. Depois da venda da loja ele passou a mascatear. Mesmo aposentado ela mascateia na feira livre da Avenida Peixoto Gomide.
(Depoimento de José Abib (tio Querido) em agosto de 2006 gravado por JL A.Holtz, grilo)