Embora a família Ozi seja conhecida pela atividade política, o Zé Ozi foi prefeito e deputado estadual e o Paulo Ozi vereador várias vezes, Chaquib dedicou-se à atividade comercial, embora não deixasse de colaborar já que era muito querido dos fregueses, em especial da zona rural. Ele tinha um caminhão que nos dias das eleições corria os bairros para trazer os eleitores. Naquele tempo isso podia acontecer.
Diferente dos demais irmãos, Chaquib começou desde menino a mostrar sua vocação para o comercio ao colaborar com o pai, o Jorge Ozi, que tinha uma loja de tecidos em Alambarí. Aos onze anos ele já acompanhava o motorista do caminhão até a capital para levar e trazer cargas.
Mais tarde, com a vinda da família para Itapetininga, Chaquib, mesmo adolescente, ficou sozinho tomando conta da Loja em Alambarí. Em Itapetininga, Jorge Ozi instalou, na esquina das ruas Quintino Bocaiúva e Major Fonseca, um armazém de secos e molhados aonde, nos finais de semana, o Chaquib vinha ajudar já que o movimento era muito grande. Com o ingresso dos irmãos José e Paulo no Ginásio, o outro irmão, o Moisés, passou a ajudar o pai no estabelecimento. Mas este também desejava estudar. Precisando de alguém com mais tempo, Jorge Ozi fechou a loja em Alambarí e trouxe o Chaquib para cá para tomar conta do Armazém. Quando nos conhecemos, em 1946, ele era praticamente o único filho a colaborar com o pai no negócio, que era um atacadista forte e já servia toda a região de São Miguel Arcanjo, Capão Bonito e Angatuba. Além disso, existia um grande número de fregueses dos bairros rurais de Itapetininga. Até mesmo outros proprietários de armazéns vinham comprar no Chaquib.
Um tempo depois que casamos, o Chaquib transferiu o armazém para outro local bem defronte ao anterior, na mesma esquina da Quintino com a Major Fonseca onde permanecemos até hoje. É interessante destacar que nessa época eu não tinha nenhum interesse pelo negócio. Minha preocupação era o estudo, a criação das crianças e minha atividade de professora. Assim, Chaquib tocava praticamente sozinho o Armazém. Alguns momentos importantes dos negócios ele me contava. Lembro, por exemplo, quando em 1956, ele passou a comprar e vender gás de cozinha, cuja revenda havia adquirido do pai do João Rolim Pinto. Apesar de seus esforços, o armazém já não tinha mais aquele movimento e freguesia. Deixou de ser atacadista devido, especialmente, ao aparecimento dos supermercados que vendiam no varejo ao preço de atacado.
Embora não fosse muito dado à vida associativa, ele foi diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Itapetininga até a sua morte em abril de 1996.
Uma mulher de coragem
Com a morte do Chaquib minha vida mudou radicalmente. Eu que não estava nem aí com o negócio. Eu não sabia nem mesmo os preços dos produtos básicos, que levava para casa. Tinha filhos, mas cada um, exceto o Carlos Roberto que ajudava um pouco o pai, tinha sua profissão e ocupação. Nem idéia do que ia acontecer eu tinha. Aí aconteceu o que menos esperava. Durante o enterro, que aconteceu num domingo, duas amigas minhas, amigas mesmo de verdade, falaram que se eu não abrisse segunda-feira eu não abriria mais. Ou abria segunda-feira ou esquecesse o armazém. Elas justificaram essa atitude lembrando que os fregueses iam dispersar após a noticia de que o armazém estava fechado. Recordaram o caso da mãe de uma delas que, com a morte do marido, guardou os sete dias de luto e quando reabriu o negócio havia perdido quase todos os fregueses e algum tempo depois ela acabou fechando o negócio. Isso ficou na minha cabeça e na segunda feira entrei aqui com a cara e a coragem. Teve até gente que nesse mesmo dia dizia: “nossa, falaram que tinham fechado o armazém” e eu respondia: “não... não fechei não”. Até hoje agradeço essas duas amigas pelo conselho.
Os primeiros tempos à frente do armazém foram muito difíceis. Não sabia nem mesmo os preços. Quando um freguês chegava e perguntava quanto custa um litro de óleo, por exemplo, eu pedia licença e ligava para outros locais para saber o preço. Muitos não forneciam o valor por telefone, outros sim, como o caso do Pão de Mel do Borba. Acho que nem ele sabe disso. Com a necessidade de novas compras passei a conhecer os preços. Aí punha a porcentagem e marcava tudo direitinho. Com os preços marcados na prateleira tudo começou a ficar mais fácil. Fui muito corajosa. Enfrentei tudo sozinha e graças a Deus, venci. Hoje conto com a ajuda do meu filho mais velho nos finais de semana. Acredito que ele dará continuidade ao negócio já que o comercio está no sangue, é hereditário. Começou quando o pai do Chaquib passou para ele e vai continuar quando eu passar para o meu filho. É a história.
Depoimento de
Naime Ibraim Ozi