GENEALOGIA - JOSÉ LUIZ NOGUEIRA 
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EMPÓRIO CAMPOS SALES
EMPÓRIO CAMPOS SALES

O Empório Campos Sales

Meu pai logo que casou foi morar em Itu. Recebeu um cartório de registro civil. Naquela cidade meus dois irmãos nasceram e logo em seguida ele foi chamado pela minha avó, Euclidia de Moraes Rosa, para entrar no comercio junto com os irmãos, Gustavo e Fernando. Mas a sociedade não deu certo, e aí ele se desvinculou e abriu um empório de secos e molhados no dia 19 de agosto de 1927, na rua Campos Sales, onde é hoje a Lotérica Moucachen.

 

Defronte ficava a agência Chevrolet de meu tio Paulo Soares Hungria, que em 1940 mudou o empreendimento para a Vila Rio Branco e ofereceu para o meu pai esse prédio, que recentemente foi transformado em Empório Style.

Nesse novo local ele instalou o seu empório de Secos e Molhados.

O empório tinha de tudo. Os secos eram o caderno, o lápis, a caneta, a borracha, todo material de escritório. Os molhados eram os alimentos, arroz, feijão, carne seca. Os empórios tinham de tudo da fazenda e ainda vendiam sapatos e botinas, por isso secos e molhados.

Comecei no comércio em 1944, inicio de 1945, mas trabalhei desde criança, porque naquele tempo não tinha esse negocio de não fazer nada. O filho tinha que ajudar o pai. A vida era de responsabilidade e os pais impunham ao filho a obrigação de trabalhar e ajudar, já que sabiam que era difícil a vida, diferente de hoje que os filhos acham que não precisam fazer nada.

Trabalhava e estudava.

Fiz a Escola Normal Peixoto Gomide, tornando-me professor e Escola de Comércio me formando Guarda-livros.

Eu não tinha aptidão para dar aula e ao sair da escola Normal retornei para o comercio junto com meu pai.

Embora fosse popular tinha o que os melhores armazéns da cidade tinham: um bom balcão e quase todos os produtos procurados.

Diferente de hoje, o freguês não entrava para dentro do balcão, sendo servido.

Hoje não existe mais o balconista, somente aqueles que repõem a mercadoria, aonde o freguês vai lá e pega. Não há mais nenhum calor humano no comercio atual. Tudo é automático.

Naquela época a mercadoria não era embalada como hoje. Feijão, arroz, açúcar, farinha de milho, enfim, todos os cereais vinham em sacos de 60 quilos que eram despejados em compartimentos próprios. Assim, quando o freguês pedia um quilo de um produto, você ia lá, pegava um saquinho de um quilo e geralmente com uma concha você retirava o produto que já pesava mais ou menos um quilo. Assim se criava uma prática e você conseguia, quase sempre, colocar no saco a quantia solicitada que era confirmada na balança, inicialmente a de peso e depois a Filizola. Nunca trabalhei com essas balanças modernas, que já sai o peso e o preço. Era importante que o balconista soubesse matemática e tabuada. É por esse motivo que todo balconista usava um lápis atrás da orelha e nunca uma calculadora.

Tenho saudades de todo esse tempo. O comercio significa que, você se enfronha nele e é difícil esquecer, de largar, porque é uma continuidade.  

O Empório Campos Sales tinha como principais fornecedores as grandes firmas de São Paulo, atacadistas como Aloísio Azevedo, Matarazzo, Julia Merta, Santista, Anderson Clayton, cujos produtos eram negociados através dos conhecidos viajantes. Os viajantes vinham para o interior utilizando a ferrovia, que era a melhor condução da época. Eles compravam uma caderneta quilométrica nas estações, não precisando assim adquirir passagem. No trem, o chefe vinha e marcava a quilometragem utilizada, até vencer o que seria a quilometragem da caderneta. De São Paulo a Itapetininga, por exemplo, eram 180 km. O viajante, além de anotar o pedido tinha liberdade para vender a prazo, cuja duplicata era trazida quando da próxima visita. Se você não tivesse o dinheiro total para pagá-la, você dava por conta e o viajante anotava na costa da duplicata o quanto havia recebido. Mas isso não implicava em que não você não pudesse comprar mais e vinha a mercadoria. Como as compras, as vendas eram quase totalmente fiado. O fiado era o prazo de trinta dias. Como em Itapetininga era praticamente uma cidade de funcionários se dava o prazo de trinta dias. Todas as compras eram anotadas nas cadernetas que ficavam com o cliente e em um livro do armazém. Chegando o fim do mês se recolhiam as cadernetas e a somavam, para que o pagamento fosse efetuado.

Muitas vezes você precisava conferir a caderneta com o livro, porque os fregueses compravam algumas coisas sem a caderneta.

No começo o empório era só do meu pai, Euclides de Moraes Rosa, onde eu e meu irmão trabalhamos muito tempo. Quando chegou a época de nossos casamentos ele nos deu uma parte do armazém, como forma de pagamento do tempo que trabalhamos sem ganhar. Essa nova firma passou a se denominar Euclides de Moraes Rosa & Filhos Ltda, com 50% de meu pai e outros 50% dividido entre eu e meu irmão Paulo de Moraes Hungria.Além de nós dois, tive outro irmão, Euclides Hungria de Moraes, que lidava com vendas e compras de cereais, mas não era estabelecido de portas abertas.

Tanto no tempo de meu pai, como no nosso, o Empório sempre teve poucos empregados, já que os próprios sócios eram balconistas. Gostaria de destacar entre os funcionários o Luiz Gonzaga de Barros, que foi braço direito de papai e depois gerente do armazém.

O Empório Campos Sales teve, desde 1927 até quando fechamos, setenta anos depois, fases de destaque.

Uma delas aconteceu devido ao fato de meu pai ser pecuarista. Ele lidava muito com remédios veterinários. Então, o que mais aparecia no armazém eram pessoas perguntando para o papai o que era bom pra diarréia de bezerro, o que era bom pra isso pra aquilo. Ele era entendido porque gostava da lida. Além disso, comprava grande quantidade de farelo, sementes de capim e produtos veterinários, além de alfafa, que armazenava no depósito do Empório. Dada a essa procura passamos a comercializar esses produtos. As sementes foram o destaque já que papai chegou a vendê-las para todo o Brasil, através de vendedores representantes. Tínhamos representantes em Campo Grande, Jaguariúna e outras cidades do Paraná. As sementes eram transportadas por trem. Foi o maior comercio que tivemos ate chegar à época que foram construídas as rodovias. Aí, os produtores de sementes, em vez de vender para um atacadista, como era o nosso caso, saíram vendendo para os consumidores. Foi quando nossas vendas começaram a cair e, então, paramos com esse negocio. 

Outro aconteceu quando nos tornamos praticamente atacadistas, ao vendermos pequenas quantidades, do total comprado, para os pequenos comerciantes estabelecidos nos bairros da cidade e a agricultores que também repassavam o produto para seus empregados.  Tudo passado.

Mas recentemente, o empório Campos Sales funcionou até tarde e inclusive aos domingos. Não para venda, mas para a reunião de amigos. De início ele tinha um horário rígido. Primeiro às oito horas da noite e depois às seis horas da tarde, abrindo sempre as oito da manhã.

Como tive participação na política, o empório também era freqüentado por autoridades e lideranças locais, regionais e estaduais. Fui exclusivamente vereador, primeiro com o prefeito Darcy Vieira de Moraes e depois com o prefeito Valter Tufik Cury.

Infelizmente, nenhum de meus filhos quis continuar no ramo. Aliás, a gente é mesmo culpada porque, quando a gente era criança, via os outros estudando e você trabalhando. Depois você começa a pensar: eu não quero que meu filho leve a vida que eu levei. Manda-os somente estudar e daí, eles não se apegam ao comercio e não continuam as atividades da família.

 

Depoimento de

Olavo Moraes Hungria

 

Olavo e Paulo Moraes Hungria

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JOSÉ LUIZ NOGUEIRA

 

 

 

 




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