CASARÃO DA ESTÂNCIA LUCINDA
O caminho dos tropeiros passava sobre o rio Itapetininga, onde localizei uma ponte bem antiga.
Fui ao bairro do Porto, local em que foi criado o primeiro arraial à beira o Rio Itapetininga.
Queria ver onde morou o Manoel José Braga, um dos fundadores de Itapetininga. Ele veio junto com Domingos José Vieira de Portugal. Domingos José Vieira trabalhava nas Minas de Ouro de Apiaí e quando a mina desmoronou ele veio para cá fundando o primeiro núcleo no bairro do Porto e depois a nossa querida Itapetininga.
Passei pelo Grand Canyon. Uma boçoroca com mais de 200 anos.
Logo após a ponte encontramos a Estância Lucinda, onde há ainda um casarão, talvez o mais antigo construído em Itapetininga.
Tivemos a oportunidade de conversar com quem já foi dono dessa casa, o senhor Agostinho dos Santos.
Quem se lembra do Sr Agostinho da FORD? Ele nasceu em Sorocaba no dia 17 de janeiro de 1920. Fez o curso primário, casou com Maria do Carmo Santos, já falecida, teve 4 filhos, 8 netos. Em 1941 começou a trabalhar na Concessionária Ford dos Irmãos Notari em Sorocaba. Com o seu crescimento profissional dentro da empresa, foi enviado a Itapetininga para administrar a nova Concessionária que se abria em nossa cidade em 1946, a Companhia de Automóveis Irmãos Notari, localizada na Rua Prudente de Moraes.
Agostinho dos Santos lembra que comprou aquele casarão histórico foi seu durante quase 50 anos. Comprou na década de 40 do japonês Koitumizu e há mais ou menos uns 10 anos vendeu para Antonio Serafim. O casarão já pertencera ao Dr. Roberto Placco, a Valdomiro de Carvalho e à família de Abílio Ayres de Aguirre.
Na sala da residência do Sr. Agostinho dos Santos vimos duas obras pintadas por Maria Prestes retratando o casarão em 1981. O Sr. Agostinho dos Santos aposentou-se em 1973 e diz que gosta muito de nossa querida Itapetininga e que sempre foi muito feliz aqui. Durante o período em que aquele casarão era seu, deu muitas entrevistas a pesquisadores de histórias de nossa cidade. (Entrevista realizada em 2005)
A casa é uma edificação composta de duas habitações contíguas: o setor da esquerda apresenta planta igual ao da direita, porém mais estreita, o que sugere que tenha sido uma venda ou pouso, ou mesmo uma agência de cobrança de impostos e as paredes internas podem ser posteriores.
As paredes externas são em taipa de pilão e as internas em taipa de mão.
O piso é assoalhado, com exceção da sala de jantar e cozinha e a área tabuada é de tábuas estreitas, o que sugere tratar-se de colocação posterior.
A carpintaria da casa tem a estrutura dos beirais com encaixe em rabo de andorinha na vertical, viga retranca sobre os cachorros e sob os caibros.
Em nossas pesquisas genealógicas encontramos o nome do Padre Thomé Vieira de Almeida Lara ditando seu testamento. Ele era filho de um dos fundadores de Itapetininga, o Manoel José Braga. Possivelmente fosse ele e sua família que moravam nessa casa. Todas as informações desse testamento você pode ver no livro Itapetininga, na página 73, do confrade Silvio Vieira de Andrade Filho.
Importante também citar aqui que a Estância Lucinda antes era conhecida como FAZENDA DO PORTO.
Esta casa também foi motivo de estudo pelo Dr. João Fernando Blasi de Toledo Pisa por ocasião de sua tese de doutorado para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em 2015 e vocês podem ver acessando aqui.
Já estamos no século XXI, mais precisamente no final do ano de 2019 e a situação é a seguinte:
Memória tropeira de Itapetininga está em ruínas
O casarão do Registro Velho, no antigo bairro do Porto, em Itapetininga, considerado a marca mais expressiva do caminho das tropas em território paulista, está ameaçado de ruir. O velho prédio, de estilo colonial, durante um vendaval seguido de tempestade, o prédio foi atingido por uma árvore, provocando sérios danos no telhado, beirais e na parede da frente.
Esta triste notícia foi dada pelo confrade Hermélio Moraes que esteve na semana passada no bairro do Porto, colhendo informações para um trabalho sobre o trecho paulista do caminho das tropas.
Segundo o caseiro Milton Gabriel de Souza, que há 47 anos cuida da atual Chácara Lucinda, “novas chuvas e a umidade natural do lugar, coberto de árvores, põem em risco maior a velha construção”. Segundo ele, o atual proprietário, engenheiro Serafim, já tomou conhecimento dos estragos e deverá providenciar a sua reparação.
A história do bairro do Porto, onde se localiza o Registro Velho, perde-se no tempo entre lendas, boatos e documentos. Contam os moradores da região, formada pelos antigos pousos de tropeiros, Capivari, Porto, Antas, Varginha, etc, que tanto o porto no rio Itapetininga, como a barreira para cobrança de impostos são do tempo dos bandeirantes, passando depois a dar apoio aos tropeiros, que pagavam uma taxa chamada portagem para usar a ponte na passagem do rio.