Foi no final da rua Quintino Bocaiúva, nº 89, antiga rua das tropas, que meu avô, sogro de meu pai, o Pedrinho Rosa montou o Armazém de Sêcos e Molhados. Por aqui não tinha nada a não ser o movimento de tropas. Passou então a ser um ponto de referência e dele surgiu a rua Barbosa Franco e o Largo em sua homenagem, o Largo Pedrinho Rosa.
Mais tarde quando papai, Amador Nogueira se casou com mamãe, Luiza Rosa Nogueira, ele adquiriu o Empório de seu sogro, que passou a se chamar Casa São Pedro. Isso em junho de 1926.
Nessa época papai deu continuidade ao armazém vendendo mais produtos de alimentação já que não existiam produtos de limpeza. Depois incluiu novos produtos como a cerveja e frutas importadas. Lembro da cerveja marca “Cachorrinho”, das uvas italianas, daquelas que hoje são produzidas em São Miguel Arcanjo e dos vinhos portugueses. Naquela época o Brasil não fabricava quase nada. Até a batata vinha da Holanda. Tinha também o seu fiel auxiliar, o José Milton.
Papai sempre demonstrou um forte espírito de luta que não o permitia desistir nunca. Ele lembrava que quando da Revolução de 1930, muitas lojas e casas comerciais de Itapetininga fecharam sua portas com medo de saques dos gaúchos. Ele permaneceu aberto e dizia que defenderia seu Armazém custasse o que custasse. Acabou ficando amigo de muitos gaúchos.
Em 1936, bem instalado, papai tinha em seu estoque completo sortimento de secos e molhados, sacaria, gêneros do país, bebidas finas nacionais e estrangeiras, artigos para fumantes, ferragens, louças e miudezas.
Nós meninos ajudávamos papai quando podíamos, mas tínhamos liberdade para brincar no largo que tinha nome de nosso avô. O local era o ponto de encontro da criançada e de muitos namorados. Nesse tempo morávamos junto ao armazém.
Dos oito filhos, somente eu, Pedro, e meu irmão João Nogueira continuamos no comercio. Embora desde criança estivéssemos junto ao Armazém, somente em 1952, que passei a trabalhar oficialmente na empresa. Demos continuidade aos hábitos do “Seu Amador” em especial no que diz respeito às cadernetas. O freguês vinha, comprava a mercadoria e nós íamos marcando em uma caderneta. No dia do pagamento ele liquidava. Mas com o correr do tempo tivemos que repensar as cadernetas. Continuamos com algumas em especial dos clientes mais antigos, selecionados. Tínhamos fregueses que eram netos e bisnetos dos antigos compradores. Somente assim ela funciona. Ao contrário a gente perde dinheiro.
Mantivemos, também o antigo prédio, somente alterando suas portas. Elas eram de madeira e colocamos de ferro. O tempo passou. A região cresceu com a vinda do Mercado, dos Correios e da Padaria Minerva do Silvestre Leitão. Também existia um velho terreno onde se instalavam os circos. Havia ainda as casas dos professores Paiva Pereira e Alberto Amadei, e o Largo do Pedrinho Rosa, que era cercado de cedrinho. Tudo isso não existe mais. Durante nosso tempo as paredes de taipa da Casa São Pedro permaneceram até o encerramento da firma quando o prédio foi vendido, derrubado e transformado em Posto de Gasolina.
A lembrança maior de todo esse tempo é de nosso pai. Ele criou oito filhos e graças a Deus todos foram bem educados e encaminhados. Se aprendemos a fazer comercio, devemos isso a ele que nos ensinou tudo. Dele ficou a marca da correção e da honestidade que orientava todos os seus negócios.
Depoimento de
Maria Apparecida Nogueira e Pedro Nogueira Rosa