Oracy Nogueira integra uma geração cuja trajetória se entrelaça com a das Ciências Sociais no Brasil.
Sua presença discreta e marcante perpassa diversas instituições e iniciativas; sua obra inovadora aborda decisivamente temas como o estigma e o preconceito, as relações raciais, família e parentesco, metodologia e técnicas de pesquisa, estudos de comunidade e sociologia das profissões, entre outros.
Oracy Nogueira nasceu em Cunha-SP no dia 17 de novembro de 1917.
Filho de Alcides Nogueira e de Isolina da Silva Moreira. Seus pais eram professores normalistas e católicos fervorosos.
Oracy viveu em Cunha até os dez anos de idade.
Seus pai mudaram para Catanduva em 1928 e logo em seguida para Botucatu onde Oracy completou o ginásio.
Com quatorze anos, em 1932 Oracy Nogueira participou como voluntário da Revolução Constitucionalista de São Paulo, experiência vividamente relatada em "A revolução constitucionalista de 1932: recordações de um voluntário" (1992).
Trabalhou em 1933 como repórter e redator no Correio de Botucatu. Já agnóstico, faz as primeiras leituras marxistas e participa da militância de esquerda, passando a acompanhar, em suas palavras, "a linha do Partido Comunista Brasileiro pelas três décadas seguintes".
Foi em 1936, com 19 anos para São José dos Campos para tratamento da saúde. A vivência pessoal da segregação, dessa vez como alvo de uma outra modalidade de preconceito, insinua-se na base do interesse pelo tema que se tornaria sua dissertação de mestrado, em 1945, na Escola Livre de Sociologia e Política: "Vozes de Campos de Jordão.
Experiências sociais e psíquicas do tuberculoso pulmonar no Estado de São Paulo", publicada em 1950.
Sua família mudou para São Paulo, onde Oracy, já refeito, faz o curso de formação de professor primário.
Na Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP) ele ingressou em 1940.
Na Escola tornou-se logo estudante-bolsista de Donald Pierson e lá conheceu Lisette Toledo Ribeiro com quem se casou. Eles tiveram quatro filhos.
Em 1942 Oracy concluiu o bacharelado. Em 1945, o mestrado, fato que o tornou um dos "decanos dos mestres em ciências sociais por instituições brasileiras".
Nesse mesmo ano, por meio de um convênio firmado entre a Escola e a Universidade de Chicago, obtem uma bolsa do Institute of International Education, seguindo para os Estados Unidos para a realização do doutoramento naquela Universidade. Lá permanece sob orientação de Everett Hughes, cumprindo créditos nos Departamentos de Sociologia e de Antropologia até 1947, tendo sido aluno de W. L. Warner, Robert Redfield, Louis Wirth, o próprio Hughes, entre outros. Retorna ao Brasil para confecção da tese, que entretanto não chega a ser defendida: sendo filiado ao Partido Comunista Brasileiro, em 1952, em pleno macartismo, seu visto para retorno aos Estados Unidos é negado.
Na ELSP, Oracy ensina no curso de graduação desde 1943 e, a partir de 1947, no de pós-graduação, desenvolvendo simultaneamente atividades de pesquisa. Integra também a direção da revista Sociologia, de 1948 até 1958. Nesse período, Oracy Nogueira realiza duas pesquisas marcantes.
A primeira delas, a já mencionada Vozes de campos de Jordão (1950), aborda o comportamento dos tuberculosos em Campos de Jordão. Trata-se de um estudo etnográfico sobre estigma avant la lettre, com extraordinária sensibilidade para os aspectos subjetivos da cultura e da organização social.
A segunda é a extensa investigação sobre relações raciais que embasa a trilogia "Atitude Desfavorável de alguns anunciantes de São Paulo em relação aos empregados de cor" (1985. 1° ed. 1942), "Relações raciais no município de Itapetininga" (1955), "Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem (sugestão para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil)" (1985. 1° ed.1955).
Em 1962 Oracy publicou Família e Comunidade: um estudo sociológico de Itapetininga. Resultado de pesquisa de 10 anos (1947-1956).
Um clássico na área dos estudos sobre família demonstrando a importância da organização familiar como fato sociológico, uma vez que a história da comunidade se entrelaça com a de certas famílias. O livro abriga diversas pérolas etnográficas, entre elas as reveladoras descrições de uma procissão e de um pique-nique.
Oracy Nogueira foi um pesquisador incansável até o momento em que a doença o impediu de continuar.
Oracy Nogueira faleceu em Cunha-SP no dia 16 de fevereiro de 1996.
Deixou-nos trabalhos modelares e a história de uma carreira íntegra e talentosa que vem sempre recebendo o devido reconhecimento institucional.
A cadeira nº 9 do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga tem Oracy Nogueira como patrono, ocupada pelo sociológio José Luiz Ayres Holtz, o Grilo.
Seu nome é sempre lembrado em nosso meio. Quero deixar registrado aqui mais uma curiosidade. Ele cita em sua obra o nome de Manoel José Braga e sua esposa como os verdadeiros fundadores de Itapetininga.
Quando estivemos na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, eu e o Grilo, em nome do IHGGI fazendo pesquisas e fotografando documentos encontramos a carta que Manoel José Braga fez para o Capitão-Mór de Sorocaba solicitando a instalação da Freguesia. O IHGGI fez uma moção e encaminhou à Câmara Municipal de Itapetininga para que fosse incluido o nome de Braga entre os fundadores de Itapetininga.
Os pesquisadores de História Regional José Luiz Ayres Holtz e José Luiz Nogueira fizeram moção dentro do IHGGI - Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga no sentido de se incluir na História de Itapetininga o nome de Manoel José Braga como um dos fundadores de nossa município, baseado na carta original que foi fotografada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro onde ele escreveu ao Capitão-mór de Sorocaba solicitando a instalação da primeira freguesia, o que ocorreu com a chegada de Domingos José Vieira a Itapetininga e a autorização recebida do Governador da Província Morgado de Matheus.
Ainda a título de informação e ajudar na memória e lembrança de todos.
Nomes oficiais dos fundadores de Itapetininga.
DOMINGOS JOSÉ VIEIRA
SALVADOR DE OLIVEIRA LEME, o Sarutayá
SIMÃO BARBOSA FRANCO
MANOEL JOSÉ BRAGA