PRD-9 - RÁDIO DIFUSORA DE ITAPETININGA
A invenção do rádio é atribuída ao italiano Guglielmo Marconi, mas o instrumento reúne uma série de descobertas anteriores. Os Estados Unidos afirmam que o aparelho foi uma criação de Thomas Edison. A Rússia defende que o “pai do rádio” é o físico Alexander Popov. E, por fim, o Brasil diz que Roberto Landell de Moura (Padre Landell) tem os créditos pelo rádio.
A radiodifusão no Brasil surgiu em 7 de setembro de 1922, sendo a primeira transmissão um discurso do então presidente Epitácio Pessoa, porém a instalação do rádio de fato ocorreu apenas em 20 de abril de 1923 com a criação da "Rádio Sociedade do Rio de Janeiro".
No Brasil, a primeira transmissão ocorreu em 1923 por Edgard Roquete Pinto e Henry Morize. O rádio é a união de três tecnologias: a telegrafia, o telefone sem fio e as ondas de transmissão.
Foi no ano de 1.923 que surgiu o rádio paulista.
Foi constituída a Rádio Educadora Paulista, a primeira em todo o Estado de São Paulo. Em 1.928 surgiu a Rádio Record de São Paulo.
Em 1935 o Brasil possuía 60 emissoras de rádio em 31 cidades de 11 Estados e um total de 200 mil aparelhos de rádio. Os Estados Unidos possuíam 20 milhões e a Inglaterra 6 milhões e 730 mil aparelhos. O número de rádios no Brasil era igual ao da cidade de Buenos Aires no ano de 1926.
A história da radiodifusão em Sorocaba foi um dos assuntos do Cruzeiro do Sul em 10 de fevereiro de 1980. Naquele dia, o jornal publicava uma entrevista com Raphael de Cunto, o "Bizuzi", fundador da primeira emissora de rádio da cidade. "Sorocaba foi uma das cidades pioneiras na radiodifusão no país. Mais que isso, ela foi a única cidade do interior do Estado a possuir em 1933, duas emissoras de rádio: a PRD-9, Rádio Sociedade e a PRD-7, Rádio Clube".
As emissoras dividiram o mercado até 1941, quando Cunto vendeu a PRD-9 para um empresário de Itapetininga, de onde a estação transmite até hoje, com o nome de Difusora. Em Sorocaba ficou a Rádio Clube (atual Boa Nova), ganhando a companhia da Cacique, em 1951, e da Vanguarda (1957).
(Eric Mantuan in Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba)
Num belo dia de 15 de novembro de 1.941 a voz de um jornalista chamado Pedro José de Camargo acordou o tímido e oculto Vale do Paranapanema.
Com sua voz grossa e solene, ele sempre lia uma crônica de sua autoria ao final dos trabalhos diários.
Era a rádio Difusora de Itapetininga que nascia, trazendo para os moradores da região a esperança de um futuro mais progressivo e feliz.
Era a promessa de solidariedade e de vindicações de um povo esquecido, se não, sempre usado, mas sem nenhum retorno, por políticos inescrupulosos.
Junto com Pedro estavam Hélio Araújo, Ademar Santana, José Prado Silveira, Paulo Guarnieri de Lara, Leonor Silveira; mais tarde, Arruda Neto, Ibraim José, Célio Simões, Carlos Araújo, Frederico Simões, Humberto Franci, Moacir Válio, Cícero Pelegrini, Rui de Moura, Aparecida Mendes, Darci Pereira de Moraes e outros.
A sede ficava na Rua Quintino Bocaiúva, nº 720 – centro – Itapetininga.
Locutores e astros de primeira grandeza surgiam e se juntavam no programa ‘Cortina de Veludo’, dirigido e apresentado por Celso Araújo, tendo Aires de Souza como seu coadjuvante.
Astros do porte de Nelli de Camargo, Valdir Paca, Geralda Araújo, Ferreira Neto, Everaldo Muller, Maria de Souza, Vasco da Costa Pinto Filho, João Simões, Odete de Souza, Aparecida Fagnani, Bruno Pucci, Adalgisa Scot, Celeste Abib e Antonio do Carmo.
Esse foi o programa de maior ibope da época. Acontecia toda semana pelas ondas hertzianas, 970 KHZ da Difusora, ou D-9.
Dramas que em nada deixavam a desejar, na época, se comparados às novelas da Rádio Nacional ou da Tupi, cariocas, ou da São Paulo, na Capital dos paulistas.
São dessa época: Thereza; Aguinaldo, conhecido como a ‘Voz do Morro’; Orlando Scott, considerado o Orlando Silva de Itapetininga; Jorge Ravaci Vitorazzo; Ranulfo; Orlando Rossi; Guedes, sambista e imitador de Jorge Veiga; João Barreto; Paulo Mendes. Todos eles excelentes cantores.
Diversos programas musicais na base dos regionais de Rubião, Dodô, Expedito e Nenê Bucheiro.
Davam suporte a esses programas, os maestros Benedito Pompeu de Jesus e Caetano Ianaconi, que, inclusive, acompanhavam Tito Madi, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Isaurinha Garcia, Hebe Camargo, Nelson Gonçalves e Linda Rodrigues quando se exibiam na região.
Fazia parte da programação da Rádio Difusora a apresentação da Orquestra Sinfônica dirigida pelo maestro Durvalino Costa e Silva, periodicamente.
Não havia ninguém que não se deleitasse com as mais seletas melodias de autores famosos que as ondas daquela rádio podia transmitir.
E os programas de auditório?
Era o Hélio Araújo comandando os ‘Calouros’ e seu programa ‘Infantil’.
Era a ‘Hora do Estudante’, com supervisão do ilustre professor de Latim, José Ferreira Carrato e também do Paulo Ozzi.
O mesmo Paulo Ozzi fazia um programa intitulado ‘Uma Voz e Um Violão’, acompanhado por Nadim Isaac.
E o super programa da época?
Era do Nhô Bentico que mostrava sua história, sua trajetória de poeta sertanejo, pura raiz caipira, um dos grandes orgulhos de Itapetininga. Ele que contava com a participação de Bernadete Sampaio, a ‘Nhá Tuca’.
O grande locutor Bruno Pucci tinha voz parecida com a de Carlos Frias e, enquanto soldados brasileiros participavam e presenciavam os horrores da Segunda Guerra Mundial, ele majestosamente utilizava os microfones da rádio para realizar o seu patriótico programa ‘Liga da Defesa Nacional’.
O esporte nunca foi esquecido.
As Olimpíadas Estudantis eram transmitidas pelo trio formado por Arruda Neto, Sérgio Teixeira (filho do médico Aníbal Teixeira) e pelo professor Joaquim Fabiano, eles que foram os sucessores de Murilo Antunes Alves.
Murilo chegou a irradiar uma partida de futebol em Itapetininga, quando a emissora ainda estava sediada em Sorocaba.
Outros radialistas, o Francisco Alves Vei e Carlos José de Oliveira. Além de trabalharem na área esportiva, eram âncoras do ‘Jornal do Meio Dia’ e do ‘Jornal da Noite’, com Walter Nakan. Walter tinha uma dicção tão perfeita e tão bem postada como a de Berilo Neves, apresentador da Rádio Tupi de São Paulo.
A Rádio, a princípio operando em Sorocaba, pertenceu a João Simões e Bartolomeu Rossi.
Mais tarde, foi adquirida por Alcides Rossi e então trazida para a terra das escolas no dia 15 de novembro de 1.941.
Desde a fundação da Emissora, o Departamento de Publicidade era dirigido por José Toledo Lara.
Mantendo um corpo de redatores de textos comerciais capazes de se renovarem constantemente, ainda contava com um grupo especialmente selecionado para tratar dos negócios desse setor: no Rio de Janeiro, o senhor Alceu N. Fonseca; em São Paulo, a Organização N. Macedo e correspondentes espalhados pelos municípios de: Buri, Capão Bonito, Angatuba, Tietê, Itapeva, São Miguel Arcanjo, Tatuí, etc.
Na Superintendência, o grande profissional Alcides Rossi.
Contava com a colaboração eficiente de Abílio Victor, o popular "Nhô Bentico", cognominado EMBAIXADOR DOS CAIPIRAS PAULISTA", que apresentava todas as manhãs (menos aos domingos) o seu programa "MANHÃS DE MINHA TERRA".
Diariamente também, às 10 horas, o "BOM DIA SONORO", com músicas variadas.
Às 11 horas, o "REVISTA SONORA", irradiando notícias e comentários sobres a cidade, literatura e música.
Às 11:45 horas, era a hora do "JORNAL FALADO DA GUERRA".
Às 12 horas, todos os dias menos aos domingos, o programa "RITMOS DAS AMÉRICAS", apresentava músicas variadas.
Às 12:30 horas, todos os dias, menos aos domingos, o "MELODIAS EM DESFILE", apresentando somente músicas suaves.
Às 15 horas, o "MOMENTO SOCIAL DA RÁDIO DIFUSORA DE ITAPETININGA", e, às 15:30 horas, início da "HORA DA AMIZADE", com música popular variada.
Às 18:05 horas, só música variada.
Às 20 horas, era a vez do "BOA NOITE LITERÁRIO" e às 20:10 horas, encerravam-se as transmissões.
Todas as terças-feiras, das 21 às 22 horas, Nhô Bentico também apresentava, ao lado de Bernadete Sampaio, a Nhá Tuca, um programa de auditório, onde se apresentavam atores da própria rádio, mais o conjunto Sertanejo da Saudade, dirigido por Nenê Mateus, e a dupla Passarinhos do Sertão, formada por Oswaldinho e Rubião.
Todo dia, às 10 horas, ia para o ar o Programa Dr. Lafayette Camargo Madeira, numa audição muito interessante apresentada por Oliveira Bueno e Leonor Silveira.
Diariamente também, às 18 horas e 30 minutos, havia o programa "CREPÚSCULO", uma audição da música dos grandes mestres.
Outras grandes audições da emissora ficavam a cargo da excelente Orquestra Sinfônica Santa Cecília, regida pelo professor Durvalino da Costa e Silva, um dos maiores músicos daquela época.
"REVISTA SONORA" também era um programa que apresentava músicas clássicas.
Nas segundas, quartas e sextas:
- às 10:30 horas, era a vez de música vienense, no programa "NA VELHA VIENA";
- às 14 horas, só músicas americanas e notícias de Hollywood, dentro do programa "CINE RÁDIO SONORA";
- às 14:30 horas, músicas em geral;
- às 19 horas, o "PROGRAMA DA LIGA DE DEFESA NACIONAL";
- às 19:30 horas, "HORA DO SOLDADO", do 5º Batalhão de Caçadores;
Nas terças, quintas e sábados:
- às 10:30 horas, "RITMO MODERNO", músicas americanas;
- às 14 horas, "HIT PARADE", "ALÔ AMIGOS" ou "ESPÍRITO DE VITÓRIA", que eram programas gravados;
- às 14:30 horas, somente "SOLOS INSTRUMENTAIS";
- às 14:45 horas, um programa portenho, só de músicas argentinas.
Apresentavam-se nos programas de auditório, cantores tais como: Maria de Souza, Carlos Zanela, Orlando Scotti, João Leonel Barreto, Luiz de Almeida, Alonso Amaral, Maria Santos, Bruno Panazolo, Romeu Santos, Renato Barreti, Celso Badim, Oswaldinho e Rubião, os Passarinhos do Sertão, Nair Badim e Zizinha Gurgel.
Os programas teatrais da Rádio Difusora, apresentados quase sempre aos domingos, mantinham em seu "cast", intérpretes sensacionais: Hélio de Araújo, Manoel Alves Lobo de Araújo e esposa Nair Martins Araújo, Professor Alcino Monteiro de Barros Bertoldi, Maria de Souza, Luiz de Almeida, Oliveira Bueno, Leonor Silveira, Ibrahim José, Milton Cardoso Leite, Celso Badim, Nelson Barros e Margarida Fagnani.
O diretor do Rádio Teatro era o dramaturgo itapetiningano Ayres de Souza.
Apresentavam-se regularmente nos programas de auditório a "Orquestra Venâncio Aires", regida pelo maestro Benedito Pompeu de Jesus e a "Orquestra Cruzeiro do Sul", regida pelo maestro Caetano Ianaconi.
Os acompanhamentos regionais eram feitos pelo popular Pide, o mago do violão, e seu famoso conjunto regional completado por Dodô, Rubião e Benedito aos violões, Esmeraldo Muller ao pandeiro, tonton e bateria.
Os locutores da PRD-9: Professor Alcino Monteiro de Barros Bertoldi (locutor-chefe), Oliveira Bueno, Ibrahim José, Leonor Silveira, Carlos Eduardo de Araujo, Célio Simões, Abílio Victor (Nhô Bentico), Leny Schincariol e Vani de Almeida.
A Direção completa da rádio em 1944: Diretor-gerente: Bartholomeu Rossi;
Diretor-tesoureiro: João de Almeida Simões; Diretor de Publicidade: José de Toledo Lara;
Diretor Técnico: Humberto Franci; Diretor de Redação: Professor Alcino Monteiro de Barros Bertoldi.
Operador Técnico: Alonso Amaral, que se responsabilizava pelo acervo da discoteca da rádio.
A torre de aço, com 70 metros de altura e 50 centímetros quadrados, era iluminada por 6 lâmpadas de 160 watts cada uma esbraceada por 12 espias tecnicamente isoladas e presas a 8 longarinas. Estas longarinas enterradas no solo a dois metros de profundidade, assentavam-se sobre uma base de cimento armado e eram providas de estirantes mecânicos.
Ao pé da torre achava-se um prédio próprio para sintonia, no interior do qual estavam localizadas as bobinas de choque, antena e fio terra, este instalado da seguinte forma: 120 radias partiam com 30 centímetros de distância uma da outra, num percurso de 85 metros cada, sendo que 15 delas com 120 metros chegavam até à água, terminando todas elas com um espaço de 6 metros entre uma e outra, descrevendo, com raios divergentes, um círculo de 10200 metros.
Circundavam a torre 81 metros de tela refletora que, se espraiando, formavam uma grande esteira.
Nos anos 60 tivemos alguns nomes já esquecidos que trabalharam na extinta PRD-9 – Rádio Difusora de Itapetininga. Benedito Braz Guimarães, o Benê, João Batista Siqueira, mais conhecido como Néte Júnior, Olavo Ayres Martins, Ari Bodo, Miltom Bodo, Salvador Santana, José Luiz Nogueira, José Salem Neto, Maria Mércia Lisbôa, Luiz Carlos Araújo, Flávio Lara,
Tem dois nomes que não podemos esquecer e que passaram pela Difusora: Almir Ribeiro e Pedrinho Batista, dois cantores que foram para São Paulo e que lá ficaram famosos, mas que infelizmente tiveram suas carreiras interrompidas. A coincidência dos fatos é que me espanta. Ambos estiveram no Uruguai e foram passear em Punta del Este, onde tem a famosa Praia Brava. Morreram afogados.
Surgiu aí a Lenda de que Itapetininganos não podiam ir para Punta del Este, no Uruguai senão morreriam afogados.
No dia 15 de novembro de 2.019 a rádio completou 78 anos de vida na cidade de Itapetininga.
Eu comecei a trabalhar na PRD-9 Rádio Difusora de Itapetininga em como técnico de som, a convite do Olavo Ayres Martins que lá trabalhava.
Comecei substituindo o Pelé tendo que abrir a estação as 7 horas da manhã. Ficava até as 10 horas. Daí entrava o Miltom Bodo.
O Ari Bodo fazia a programação de alguns programas. Ficava na discoteca separando os discos e datilografando a programação em duas vias. Uma ficava com o locutor e outro com o técnico de som.
Ao meio dia tinha o programa “Voce é o Programador” apresentado pelo Flávio Lara e com o José Carlos Peiretti na técnica. Em seguida entrava o Néte Júnior com o programa Disc-news. O Olavo Ayres Martins na técnica.
Depois vinha a Hora da Amizade. Um programa onde as pessoas ofereciam músicas cumprimentando os aniversariantes.
As 18 horas tinha a Hora da Ave Maria.
As 19 horas começava o programa A Vóz do Brasil que era transmitido em rede nacional com todas as emissoras de Rádio.
As 22 horas tinha o Rádio Jornal, normalmente apresentado pelo Chico Wei, Carlos José ou Gildo Holtz Moraes.
Finalizava a programação com Audições Moucachen, um programa só com músicas clássicas.
As 23 horas a emissora saia do ar para voltar no dia seguinte as 7 horas da manhã com a Hora Nipônica. Quem apresentava o programa era o Quirino Pinto Filho e uma japonesa que era da Cooperativa.
Aos domingos tinha o Programa Infantil pela manhã. Foi quando conheci o Nilson Teixeira de Almeida, o Fulgêncio e o Luiz Honório, o Filisbino e começamos a juntos nos apresentar em peças teatrais no Clube Recreativo Itapetiningano.
Nas tardes de domingo tinha o programa “Tarde esportiva” e normalmente havia transmissão de jogos de Futebol da Terceira Divisão de Futebol. Tínhamos os locutores Benê Guimarães e Néte Júnior e o Pedro Franco como comentarista. Eu e o Alcides cuidávamos da parte técnica para que tudo funcionasse direitinho. Daí convidamos o Luiz Honório de Oliveira, mais conhecido como Filisbino para ser repórter de campo, entrevistando os jogadores e fazendo comentários durante o jogo.
Lembro ainda que participei do primeiro programa apresentado a noite pelo Pedrinho Franco. Era um programa no mesmo estilo que o Moraes Sarmento apresentava na Rádio Bandeirantes de São Paulo. A gente só tocava músicas antigas.
O grande merchandise da época que inclusive emprestou seus serviços comerciais voluntariamente à rádio foi Juquinha de Lara, que tinha como constante colaborador, Luiz Honório, o Filisbino.
Considerado o diskey-jeca do sertão, Filisbino deu novo enfoque às coisas, costumes e hábitos do homem do campo, revolucionando os programas sertanejos do Brasil.
A estação foi vendida para o Abraão, mudou o prefixo e aí começam novas histórias que serão contadas em outra oportunidade.
Se você tem algum fato que acha interessante ser contado nesta história, por favor, mande sua mensagem para o nosso email jlnogueira@bol.com.br que teremos o máximo prazer em publicar.
Precisamos melhorar esta história. Ajude-nos. Obrigado!
Algumas fotos e informações foram tiradas de uma revista editada por João Batista Siqueira, o Néte Júnior que trabalhou na PRD-9 durante muitos anos.