GENEALOGIA - JOSÉ LUIZ NOGUEIRA 
RAINHA DO SUL
RAINHA DO SUL

Rainha do Sul: um marco na modernidade comercial

 

As atividades comerciais da família Lara começaram com meu pai, na cidade de Tietê, onde trabalhou desde menino. Dada a sua agilidade como vendedor, aos 17 anos passou a gerenciar uma loja de tecidos naquela cidade.

 

Logo após o casamento, em 1913, ele e minha mãe, Ângela Guarnieri de Lara mudaram para Itapetininga. Aqui ele se estabeleceu em um ramo completamente diferente, no final da rua Alfredo Maia, com uma espécie de “armazenzinho”, onde minha mãe fazia salgadinhos para vender.  Lá eles começaram a vida. Depois mudaram para Rua Campos Sales, onde montaram uma confeitaria. Era perto Hotel Central e defronte a Livraria do Camilo Lellis, que era tio do nosso amigo Pedro José de Camargo. Minha mãe era uma cozinheira de mão cheia e fazia doces. Depois mudaram, novamente, para onde é hoje a agência do Unibanco, na esquina das ruas José Bonifácio com Monsenhor Soares. Nesse local papai teve um armazém e foi aí que eu nasci em 1922.

 

Pouco tempo, dois anos depois, ele mudou de endereço e de ramo. Foi para a rua Júlio Prestes, onde fica hoje o Banco HSBC, onde instalou a Casa Moderna que era uma loja de artigos finos. Foi nessa época, entre 1924 e 1925 que meu tio Juquinha, ainda menino, começou a trabalhar com meu pai. Depois disso papai construiu um prédio próprio, na rua Saldanha Marinho, defronte ao escritório Bandeirantes, onde ficou até 1929. Com a crise mundial e com o café caindo de preço, ele, que talvez fosse o maior comerciante naquela época, acabou perdendo tudo.

 

Sem medo de recomeçar, montou uma casa dos dois mil reis, na esquina do Largo da Matriz, precursora dessas milhares de lojas, que têm hoje, de 1,99. Isso ai em 1930.

Sem medo de recomeçar, montou uma casa dos dois mil reis, na esquina do Largo da Matriz, precursora dessas milhares de lojas que têm hoje de 1,99.  Isso ai em 1930. Lembro-me muito bem desse fato porque foi quando Getúlio venceu a Revolução e desceu em Itapetininga, porque aqui era terra do Júlio Prestes. Ele parou em nossa cidade, talvez por “acinte”, já que começou, desde aquela época, a implicância do governo de Getúlio por Itapetininga.

 

Essa loja de 2 mil réis ficava na esquina da rua Saldanha Marinho com a Dom Joaquim, onde hoje é o Restaurante Nota 10. Naquele tempo não existiam esses artigos chineses vendidos hoje. Era quase só alumínio e coisas de vidro. Não foi papai que inventou isso, porque as Lojas Brasileiras, que eram idênticas as Lojas Americanas, naquela época em São Paulo, começaram com o nome de Loja dos dois mil reis.

 

Foi nesse período, com 10 anos que eu passei a ajudar meu pai em algumas coisas: às vezes balcão e outras atendimento. Lembro bem que quando se fazia liquidação e se precisava fechar, papai mandava ficar na porta para não deixar entrar muita gente. Logo depois disso meu pai teve uma confeitaria, onde hoje e o estacionamento do Hotel Colonial. na esquina da Saldanha com Julio Prestes. Mamãe voltou novamente a trabalhar em confeitaria e fazia pães e doces, coisas assim, que um senhor vendia na cidade com entrega direta. Depois disso papai foi embora pra São Paulo, onde instalou a Pensão Brasileira, primeiro em Pinheiros e depois no centro, na Avenida Duque de Caxias, esquina com a Rua Santa Efigênia, que vivia cheia de itapetininganos. Como papai estava em São Paulo tendo uma vida muito difícil, Francisco Alves, que era administrador da fazenda do Julio Prestes, e muito amigo de meu pai, o convidou para em Itapetininga, montar uma loja em sociedade com o seu filho, Gustavo Lara. Então abriram a Loja Rainha do Sul, na Rua Júlio Prestes, onde hoje é uma sorveteria e uma imobiliária, quase na esquina da rua Monsenhor Soares Isso em 1941.

 

Nesse ano quando de minhas férias, Itapetininga assistia a inauguração da Rádio Difusora e acabei participando e sendo aprovado no concurso para locutor. Voltei para Itapetininga, mas ainda não havia reiniciado a atividade comercial. Um ano depois, com um salário melhor, voltei para São Paulo e papai continuou com a Rainha do Sul ali na rua Julio Prestes. Anos depois, em 1945, fazendo economia, papai comprou a parte de seu sócio Gustavo de Lara. Em 1947, logo após o meu casamento resolvi vir embora para Itapetininga. Fiquei alguns meses trabalhando com papai, para pegar prática de balcão. Pouco tempo depois abri uma loja de armarinhos. Era “A Princesinha”, ali na rua José Bonifácio, esquina da Saldanha Marinho, onde hoje tem um bar. Naquele tempo era um prédio do Valdomiro de Carvalho, pai do Chuca que tinha farmácia. Era uma loja de armarinhos, grande para aquela época, a única especializada na cidade. Fiquei com a loja ate o final de 1952.

 

Nesse tempo papai tinha estado meio doente, com problemas de pressão, e resolveu passar a loja para meu irmão Osvaldo, eu e tio Juquinha, que naquele tempo era funcionário. Osvaldo, meu irmão mais novo desde menino trabalhou com meu pai ajudando, especialmente na parte de Contabilidade, já que havia estudado para tanto. Tudo isso ainda na rua Julio Prestes.

 

Na nova sociedade, substituímos as roupas feitas, que naquela época eram de menor qualidade, por confecções de marca. Introduzimos moveis, começando com estofados. Passamos a representar uma fabrica muito boa e conhecida de estofados, a Luis XV, de Santos. Foi a primeira que trabalhamos. Depois foram os móveis de copa.   

Em 1954, compramos o prédio do Largo dos Amores, que naquela época era Agência Chevrolet do Jairo Costa. Fizemos uma reforma para adaptação. Quando mudamos introduzimos uma porção de coisas novas: estofados, copas e dormitórios.

 

No ano de 1965, tínhamos um movimento muito bom. Mas não era uma loja como a gente queria. O Osvaldo gostava muito de desenhar e andou fazendo uns planos e, inclusive uma planta de reforma, com fachada e tudo. Assumimos o desafio, fizemos uma grande reforma e inauguramos a nova Loja Rainha do Sul em 1966. Nessa época trabalhávamos com uma firma de moda feminina famosíssima, a Thomazzo, e que era exclusiva das Lojas Exposição Clipper, em São Paulo. Ela, para a inauguração, mandou seus novos lançamentos e mais cinco modelos profissionais para um Desfile de Modas.    Fizemos uma passarela na parte de cima da loja. Com uma iluminação especial, ajudado pelos vidros da frente, o espetáculo pode ser assistido por centenas de pessoas que lotaram o Largo dos Amores. Foi nessa nova loja que passamos a trabalhar com eletrodomésticos, com destaque para a representação da Frigidaire e de varias marcas televisão.

 

Outra novidade foi a criação de um carnê de Enxoval Rainha. Era um enxoval completo que mandávamos fazer em grande quantidade em fábrica. Eles eram acondicionados em baús de madeira e ali ia tudo que precisava para um enxoval, como lençóis colchas, toalhas de banho, cama e mesa. A gente vendia isso em prestações e fizemos um carnê que a pessoa ia pagando e concorrendo a prêmios, sendo que o primeiro prêmio era um “fusca” do ano. O carnê foi um sucesso e quem ganhou o primeiro prêmio foi o Romeu Pandolfo, que era dono do Hotel São Paulo. Era figura conhecidíssima na cidade. Teve outros prêmios: geladeira, fogão. Fizemos uma grande festa. Tudo aconteceu na praça, com a presença de vários artistas e da miss Itapetininga, Elisabeth Maria Lehr, que ganhou o premio de Miss Objetiva Internacional.

A Rainha do sul foi um ponto de encontro de amigos e da juventude.

A Rainha do Sul, em especial no Largo dos Amores, foi um ponto de encontro de amigos e da juventude. Como o Osvaldo era jogador de basquete, a turma inteira da época freqüentava a loja. Lembro do Rubens Carrano Ravacci, o falecido Jacques Reis e muitos outros.

 

Fomos os primeiros a instalar uma balança moderna, uma balança Filizola, que se tornou uma atração incrível, já que as pessoas, que precisavam saber seu peso, tinham que ir aos armazéns, onde utilizavam aquelas rudes balanças que serviam para pesar sacarias. Essa balança ficava na parte externa da loja. Como a loja era iluminada até as 23 horas, as pessoas passaram a utilizá-la, inclusive à noite.

Em 1971 vendemos o prédio ao Bradesco, tendo em vista as dificuldades que tivemos com o caixa, já que naquele período, os Bancos fecharam os empréstimos aos comerciantes. Daí instalamos a Rainha do Sul na rua Venâncio Aires, que funcionou até o ano de 1976, quando liquidamos a loja. Nesse período implantamos o Archote Restaurante.

 

Inúmeras são as lembranças da Rainha do Sul. Entre elas, de ter sido a primeira loja de departamentos de Itapetininga, inclusive tendo em seu interior uma boutique. Outro destaque foi a qualidade dos produtos, particularmente os ternos. Recordo das roupas Igê, uma roupa de altíssima categoria masculina.  Foi a primeira que surgiu na cidade e que os próprios alfaiates locais reconheciam sua qualidade.  Foi essa mesma empresa que patrocinou O Repórter IGÊ, que era transmitido diretamente da Rainha do Sul, pela Rádio Difusora de Itapetininga. Todo dia um repórter, como Chico Vei, Carlos José de Oliveira ou Jair de Oliveira, davam as noticias diretamente da loja.

Depoimento de

Paulo G. de Lara


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