GENEALOGIA - JOSÉ LUIZ NOGUEIRA 
Criar um Site Grátis Fantástico
TROPEIROS
TROPEIROS

Os Tropeiros de Itapetininga

 

Meu avô, César Eugênio Piedade e meu pai Luis Piedade foram os primeiros da família a negociar com tropas.

O meu pai tinha chácara aqui na cidade. Os gaúchos traziam tropas ate Itararé. Quinhentas mulas. Meu pai e meu avô compravam e a gente ia buscar em comitiva. Daqui a gente saia mercar, por Santa Adelaide, Tatuí, Tietê, Capivari, Piracicaba, Laranjal Paulista e ia embora. Depois pegava outro lote e ia por Guareí, Bofete e Botucatu. Depois entrava pelos lados da Ribeira passando por Conceição, Gramadinho, São Miguel Arcanjo, Iguape, Registro e ia por aquele fundão até vender as quinhentas mulas. Tinha também um tio que saia pelos lados de Cerqueira César e Avaré.

A gente tinha os locais certos pra ficar e ali vinham os fregueses. A gente vendia só na palavra, marcava o nome da pessoa num livro e dava sessenta dias de prazo. Ninguém naquele tempo tinha dinheiro. 

Só valia o nome da pessoa, a honestidade, sessenta dias. Muita gente tinha lavoura e dependia da sua venda. A gente voltava com outra ponta de mula e recebia. Caráter, hombridade, honestidade e um fio de bigode eram os documentos naquele tempo. Na minha família até hoje ta valendo, com a graça de Deus.

A gente vendia tudo e nunca tomamos prejuízo. Pagavam tudo certinho. Em média se vendia de 30 a 40 mulas por comprador, mas existiam também aqueles que compravam somente uma. Duzentos mil reis era o preço de cada mula pra escolher na tropa.

Em 1945 meu pai e meu avô foram chamados em Itararé pelo Carlito Menck e lá compraram 1500 mulas. Quinhentas já estavam lá e nos trouxemos trezentas e foram vendidas pra Força Publica em São Paulo pra coletar lixo com carreta de cinco mulas. Outras trezentas mulas foram vendidas pro Rio de Janeiro e pra Minas, mais cem mulas. O resto nos saíamos mercar, vender, fazer barganha.

Na barganha a gente trocava um animal por outro. Como mula por burro. Isso acontecia. As pessoas iam aos engenhos de Piracicaba, Umbuca, Rio das Pedras e Capivari. Eles soltavam 20 a 30 burros velhos pra a gente que vendia em São Roque pra puxar uva e na barganha eles voltavam a diferença.

Quando a gente viajava, tinha um burro cargueiro com todos os instrumentos pra fazer a comida. Tinha o alimento, tinha panelas e um couro de boi que ia por cima disso tudo amarrado. Era uma maravilha. Chegava na pousada, armava a barraca, jogava o baixeiro, o pelego e o travesseiro.

Na trampinha colocava a chaleira para esquentar o chimarrão e a panela pra cozinhar feijão.

Uma viagem de Itararé a Itapetininga levava sete dias.

Fizemos várias vezes essa viagem, sendo que a última foi no ano de 1950.

Os trajetos eram quase sempre repetidos, pois além da venda, havia também o recebimento após o prazo. Na época não tinha Banco e era tudo em dinheiro que a gente guardava na guaiaca, porque a guaiaca tinha uma parte por dentro, que dobrando não dava para ver a nota.

Meu avô César Eugênio Piedade era um homem muito negociante. Ele não parava com nada. Morou em diversas propriedades e com meu pai comprava outras. A gente ia de lá pra cá. Além de trabalhar com leite, parte dos quais fazia queijo, ele e meu pai compravam as mulas. Meu avô e depois meu pai foram os cabeças do negócio.

Meu pai também negociou com leite. Nós vendíamos leite na mangueira, leite nos copos e até mesmo vendemos leite na mala. A mala era de pano onde se colocava cinco litros na frente e cinco litros atrás, litros esses de bebidas normais. Cada litro de leite era muito barato e vendido na rua.

Daí eu me casei e fiquei em Itapetininga, trabalhando com meu pai que me deu um gado, sendo que o leite era meu e a bezerrada era dele. Antes disso, tomei conta da fazenda de meu avô na Chapada Grande. Depois peguei meia fazenda e fiz o meu pé-de-meia e continuei negociando com pequeno gado. Fui retireiro, tirando leite duas vezes por dia e fiz lavoura arando com burro. Vivi os últimos anos em Angatuba. Quando minha esposa morreu, vendi o gado e arrendei para lavoura. Hoje tenho gado Nelore Canchim pra corte. Fui tudo na vida: tropeiro, caminhoneiro, montava em qualquer animal e hoje faço tudo a pé. Meu filho me diz: “o senhor abusa muito e um dia a vaca pega o senhor no pasto”. Então eu falo: “não tem problema, se pegar, onde tiver 3 corpos, ta o Piedade deitado. Vá buscar”.

 Depoimento de

Lauro Lemos Piedade

 


Muar – mercadoria

             “Esta mercadoria de que depende a distribuição de tantas outras e que tem a seu favor a vantagem de se transportar a si mesma, vai fazer com que uma linha pontuada de ranchos, arraiais e vilas se estenda de São Paulo até a margem do Rio da Prata, tornando efetiva a ocupação, pelos portugueses, do território compreendido entre o vale do Paranapanema até a altura do porto de Laguna, por onde então se fazia todo o comercio do sul com o Rio de Janeiro”.

NOGUEIRA, Oraci

“Origem e Evolução Histórica de Itapetininga”

  Itapetininga, Maio de 1955. pág. 12


 

Fui criado aqui na lida. Aqui tinha gente que carrociava, plantava lavoura, trazendo tudo do fundão da propriedade que tinha duzentos e vinte alqueires. Tudo era trazido na base de sete cargueiros, dividido numa carroça e cinco burros. Vinha de lá do fundão e trazia ate aqui pro paiol. Enquanto a gente não viajava com tropa, lidava com a lavoura e com o gado leiteiro. Era mais o Lauro que lidava com essa parte.

A produção era pequena. Era mais pro gasto do trato dos animais daqui. Convivi com meu avô, Nhô César Piedade. Morei com ele, quando foi dono daquela casa da esquina, onde é hoje o Ginásio, e que foi do Zico Strasburg. Ele era muito dado a negócios de tropas que ele comprava no Rio Grande do Sul. Era interessante a forma de compra e venda, já que a negociação era feita só por carta. Ele mandava uma dizendo quantas mulas queria e o vendedor confirmava também por carta. Também era por carta a confirmação de quantas mulas havia recebido e quanto devia. Depois de negociada a tropa o gaúcho vinha, de trem até Itararé ou Itapetininga para receber, em dinheiro, o valor combinado. Sua ultima compra foi bastante interessante. Aos 80 anos ele foi para Poços de Caldas e comprou uma mula que ele viu lá, uma mula muito mansa, de bom porte, marchadeira e que tinha um topete no meio das duas orelhas. Essa mula foi o maior sucesso aqui em Itapetininga. A gente passava por baixo dela, montava, era de uma mansidão extrema. Ele se gabava de ter comprado o animal lá em Poços de Caldas e ainda ter embarcado a mesma na ferrovia. Coisas de Nhô César Piedade. Com o término do comércio de tropas, tive que arrumar um serviço fora, primeiro no DER e depois no Instituto Penal Agrícola, que foi transformado em Instituto de Menores. Nesse período, já casado fui estudar a noite. Formei-me professor e passei no concurso para diretor e depois coordenador pedagógico. Exerci a ultima direção na Escola Ataliba Júnior daqui de Itapetininga, quando me aposentei.

Depoimento de

Luiz Piedade Filho


Número de muares 1731 – 1860

 

De 1731 a 1750, provavelmente, passaram pelos campos de Itapetininga, vindos do sul, mais de 2.000 muares por ano. De 1750 a 1780 (período em que Itapetininga se consolida) o número anual sobe a mais de 5.000 e os números subirão ininterruptamente, até atingirem o máximo de 100 mil anuais entre 1855 e 1860, para logo depois começar o declínio produzido pelo desenvolvimento das ferrovias”.

ELLIAS JUNIOR, Alfredo

A Economia Paulista do século XVIII - 1.85

 


Eu na época era pequeno, devia ter uns dez anos mais ou menos, e me lembro das saídas quando eles estavam com os animais preparados. Antes de iniciarem a viagem, faziam um trabalho de tosa nos animais, pra ter uma melhor apresentação dos mesmos aos interessados. Lembro-me da tropa que era constituída de animais que eles chamavam de “flor da tropa”. Tinham aqueles animais pequenos que eles chamavam de refugo que eram menos valorizados porque eram os mais difíceis de vender. Eu nunca saia em viagem porque era o caçula. Praticamente o mais protegido, mas também tinha a obrigação de ficar na companhia de minha mãe, que ficava só durante o período de viagens. Fiz também o magistério e me formei em 1955, chegando a lecionar durante uma semana numa Fazenda entre Paranapanema e Angatuba. Fiz concurso pro Banco do Estado, INPS e Banco do Brasil. Para o Banco do Brasil fiz dois, sendo aprovado no segundo. Fiz carreira e me aposentei trabalhando no setor de Crédito Agrícola. 

Depoimento de

Lúcio Lemos Piedade

Piedades - tropeiros (foto do acêrvo da família) 

VOLTAR

Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Google-Translate-Portuguese to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese




ONLINE
18




Partilhe esta Página



PARTICIPE

AJUDE-NOS A MANTER ATUALIZADA AS INFORMAÇÕES DESTE SITE

 

ESCREVA-NOS

 

CONTO COM SUA AJUDA

 

JOSÉ LUIZ NOGUEIRA

 

 

 

 




Total de visitas: 1864989