Depois dos portugueses foram os italianos os primeiros imigrantes a chegarem em Itapetininga.
Com seu jeito alegre de ser cativaram os moradores locais, não apenas com a sua cultura, mas especialmente com sua criatividade.
Como os demais imigrantes europeus, por extrema necessidade, os Tambelli vieram para o Brasil através de meus avós, Dionizio Maria Gaetano Tambelli e Ângela Leopolda Spocratti Tambelli, que chegaram no Porto de Santos no dia 1º de agosto de 1888. Eles e quatro - Gentil, Rodolfo, Mauricio e o Ferrutio - dos seis filhos. A família era tradicional no norte da Itália, em Cereseli, perto de Mantova, região de Milão, desde o século XII, como pudemos comprovar em recente viagem, onde descobrimos um feudo dos Tambelli. Em sua primeira residência, em São Paulo nasceram meu pai, Francisco e Marfiza. A seguir mudaram para São Roque onde meu avô exercia sua profissão de ferreiro, aliás, ocupação também escolhida por meu pai.
Ao crescerem, os filhos seguiram seus caminhos. Tio Rodolfo veio para Tatuí. Meus tios Ferrutio e Marfisa permaneceram em São Roque e meu tio Maurício veio, em 1905, para Itapetininga trazendo meu pai, dez anos mais novo.
Em 1916, Tio Maurício montou um pequeno armazém na esquina das ruas Monsenhor Soares e Lopes de Oliveira, já que dispunha de poucos recursos. Com o tempo, dado ao seu trabalho e luta, conquistou nome e ampliou seus negócios possuindo, por volta de 1934, um grande empório onde comercializava secos e molhados, ferragens, louças, armarinhos, artigos para fumantes e bebidas.
De início, meu pai, Francisco Tambelli, trabalhou com meu tio no armazém. Era empregado dele. Aqui conheceu sua primeira esposa Áurea. Casado, passou a exercer a arte de ferreiro na rua Quintino Bocaiúva, onde hoje é a entrada Vila Barth. Sua profissão exigia força já que era necessário, sozinho, segurar burros e mulas para ferrá-las. Essa força inclusive ficou conhecida no antigo jogo de dedo. Contavam que ele havia estourado o dedo de um cidadão de Tatuí em um desses jogos. Montou também uma bicicletaria, no Largo dos Amores, que ficava sob a responsabilidade da mulher. Convidado por Bartolomeu Rossi que tinha um armazém na esquina das ruas Monsenhor Soares e José Bonifácio, onde hoje é o Unibanco e antes do Snooker do Romão, passou a ser seu sócio. Ao longo dos anos meu pai construiu o seu próprio capital e montou um armazém no meio do quarteirão da Monsenhor Soares.
Papai teve nove filhos. Sete do primeiro casamento e dois do segundo, eu e Vanilda. Dos vivos, todos os meus irmãos continuaram no comércio. Para os filhos Benedito e Acácio papai montou armazéns e deu a eles. Depois, em 1958, Acácio vendeu o empório e mudou-se para São Paulo onde montou uma loja de automóveis. Ela existe até hoje, só que em sociedade com o filho Marcos.
Benedito montou uma Fabrica de Bebidas, denominada “Oceania” e a conhecida Casa Betam, uma loja de eletrodomésticos.
Para o Plínio meu pai montou uma torrefação de café, que produzia o famoso Café Caseiro. A seguir um Posto de Gasolina, no mesmo prédio que papai tinha a bicicletaria. E depois a Máquina São Francisco, que com a posterior saída de meu pai ficou só para o Plínio.
O armazém do meu pai vendia de tudo. Só não vendia avião porque não tinha ou se tinha era pouco. Fui criado lá. Lembro-me do armazém, me lembro que atravessava a rua Venâncio Ayres aonde existiam alguns terrenos que ele alugava para fabricar e guardar carvão. Lembro do grande tonel que ficava numa espécie de sala, onde engarrafava pinga que comprava a granel do Bimbo, avô do Arlindo Calux, que tinha uma fazenda em Tatuí. A pinga se chamava Vanilda, nome da minha irmã. Também produzia o vinho Leonor, nome da minha mãe. Foi uma infância maravilhosa. Ainda me recordo quando meu pai trouxe para Itapetininga os primeiros fogões e botijões de gás e a segunda geladeira, o que causava uma verdadeira procissão de curiosos que queriam ver como funcionavam essas coisas. Desse período áureo meu pai teve diversos empregados. Recordo-me do Avelino, contador, do Zé Marcondes e do Laerte Martins de Castro que depois montou um armazém na Rua Quintino Bocaiúva.
Fiquei ajudando no caixa e no balcão até meus treze, quatorze anos, quando me mudei de Itapetininga para estudar, interno, em São Paulo.
Somente retornei em 1969 quando meu pai teve um derrame. Voltei já formado em Direito para ajudar no Armazém que, inclusive, acabei comprando. Só que não tinha experiência e vocação para a atividade. Além disso, nessa época começou a funcionar o primeiro supermercado da cidade, os da Industrias Reunidas Francisco Matarazzo cuja concorrência acabou prejudicando muitos comerciantes. Mantive o armazém enquanto meu pai esteve vivo. Um ano depois de sua morte, em agosto de 1969, encerrei suas atividades. Vendi o estoque para o Chaquib Ozi e fui advogar.
O armazém não continuou com mamãe porque também não havia trabalhado lá. Como meu irmão Acácio e dois tios, irmãos dela, era formada em farmácia pela Escola de Farmácia e Odontologia de Itapetininga e era responsável técnica por algumas farmácias da cidade.
Embora meu pai não tenha se interessado pela política o mesmo não aconteceu com meus irmãos comerciantes. Benedito e o Acácio foram vereadores. Acácio pelo PTB, do Toniquinho Pereira e o Benedito pelo PSP, do Ademar de Barros. Na atividade associativa papai e tio Maurício foram fundadores da Associação Comercial. Meus tios da diretoria do Clube Venâncio Ayres e membro do Lions (Plínio) e do Rotary (Benedito).
Depoimento de
Francisco Tambelli Filho