Com a morte do Chaquib minha vida mudou radicalmente. Eu que não estava nem aí com o negócio. Eu não sabia nem mesmo os preços dos produtos básicos, que levava para casa. Tinha filhos, mas cada um, exceto o Carlos Roberto que ajudava um pouco o pai, tinha sua profissão e ocupação. Nem idéia do que ia acontecer eu tinha. Aí aconteceu o que menos esperava.
Durante o enterro, que aconteceu num domingo, duas amigas minhas, amigas mesmo de verdade, falaram que se eu não abrisse segunda-feira eu não abriria mais. Ou abria segunda-feira ou esquecesse o armazém. Elas justificaram essa atitude lembrando que os fregueses iam dispersar após a noticia de que o armazém estava fechado.
Recordaram o caso da mãe de uma delas que, com a morte do marido, guardou os sete dias de luto e quando reabriu o negócio havia perdido quase todos os fregueses e algum tempo depois ela acabou fechando o negócio. Isso ficou na minha cabeça e na segunda feira entrei aqui com a cara e a coragem. Teve até gente que nesse mesmo dia dizia: “nossa, falaram que tinham fechado o armazém” e eu respondia: “não... não fechei não”.
Até hoje agradeço essas duas amigas pelo conselho.
Os primeiros tempos à frente do armazém foram muito difíceis. Não sabia nem mesmo os preços. Quando um freguês chegava e perguntava quanto custa um litro de óleo, por exemplo, eu pedia licença e ligava para outros locais para saber o preço. Muitos não forneciam o valor por telefone, outros sim, como o caso do Pão de Mel do Borba. Acho que nem ele sabe disso. Com a necessidade de novas compras passei a conhecer os preços. Aí punha a porcentagem e marcava tudo direitinho. Com os preços marcados na prateleira tudo começou a ficar mais fácil. Fui muito corajosa. Enfrentei tudo sozinha e graças a Deus, venci.
Hoje conto com a ajuda do meu filho mais velho nos finais de semana. Acredito que ele dará continuidade ao negócio já que o comercio está no sangue, é hereditário. Começou quando o pai do Chaquib passou para ele e vai continuar quando eu passar para o meu filho. É a história.
Depoimento de
Naime Ibraim Ozi
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