GENEALOGIA - JOSÉ LUIZ NOGUEIRA 
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A CASA ZEBÚ E SEU CAVALO DE PAU
A CASA ZEBÚ E SEU CAVALO DE PAU

 

Embora tivesse uma família bastante extensa, somente meu pai, Gumercindo Soares Hungria, se dedicou ao comercio. Mesmo formado em Odontologia, foi o fundador da Casa Zebu, uma das mais tradicionais da cidade. Papai fundou a Casa Zebu junto com um sobrinho dele, Alcindo Soares Hungria, em 1918, e a primeira loja se instalou na esquina da Rua das Flores com a Dom Lino, onde hoje se ergue o Hotel Colonial na esquina da Saldanha Marinho com a Julio Prestes. Como o perfil da cidade, naquela época, era ligado ao tropeirismo, os produtos mais comuns no comercio eram acessórios pra cavalo charrete etc. A loja de meu pai tinha uma grande quantidade de desses objetos.

 

Nesse local eles ficaram até 1924 e em seguida foram para rua Quintino Bocaiúva, antiga Rua do Gado e Rua das Tropas.

 

Além da loja teve um curtume na vila Santana. Lá as pessoas matavam boi e o couro vinha primeiro para a casa Zebu. Estou sentindo até agora o cheiro dos produtos que eram neles colocados. Daí eles retornavam para o curtume onde eram trabalhados.  Novamente vinham para a oficina da loja onde eram confeccionados os mais diversos acessórios do ramo.

 

Como os demais comerciantes, a Casa Zebu também vendia fiado. Também existia a caderneta. Enquanto nos armazéns a compra fiado era de meio quilo de pó de café ou uma latinha de fermento Royal, na Casa Zebu era sela.  Tudo era feito com muita honradez. Eu não lembro em ouvir do papai falar que alguém não tenha cumprido com seus compromissos.

 

Existia uma selaria nos fundos onde funcionários exemplares confeccionavam selas e arreios, principalmente selas que papai trazia de amostra do Rio Grande do Sul.  Elas faziam muito sucesso na época. Desses funcionários dois me marcaram muito: Ari de Campos e Salvador de Oliveira. Eram os funcionários chaves nessa confecção de artigos. Verdadeiros artistas.

 

Nesse período, o irmão mais velho de meu pai, João Soares Hungria, montou um grande estabelecimento e logo em seguida outro, chegando a produzir para exportação. Mas era um industrial, em ramo bastante diferenciado do comercio de Gumercindo. Também se dedicou a política, sendo Prefeito, e a atividades recreativas, sendo presidente do tradicional Clube Venâncio Ayres.

 

Mas sucesso mesmo era a Casa Zebu. Meu tio era um homem avançado para a época. Chegou mesmo a criar um portfólio, um livro de amostra de seus produtos. Impresso esse que considero um pioneirismo e um avanço para a época.  Esse folder tinha uma capa dura e em seu interior fotos de tudo que existia dentro da Casa Zebu. Era fotografia só de arreios, outra de estribo, outra só de pelego etc. Papai distribuía isso pelas cidades, inclusive do Rio Grande do Sul, e onde existisse interesse por esses produtos. Era uma forma da Casa Zebu atrair fregueses

 

Outro detalhe que me chamava à atenção era a grande variedade de produtos que a Casa Zebu tinha. Lembro bem daquelas longas prateleiras que me impressionavam muito. Também me marcou muito foi a existência, na frente da Casa Zebu, de varias argolas na guia para que os cavaleiros parassem. Era o ponto de estacionamento da Quintino Bocaiúva. Tinha argolas de todo tipo e tamanho. A pessoa parava o cavalo, amarrava e deixava ali naquele ponto.

 

Alem disso, tem a historia que marcou a região e até mesmo a população espalhada pelo estado, que era a presença do cavalo da Casa Zebu. Era um cavalo de madeira com uma sela muito bonita que ficava na frente da loja. Era uma atração. Vinha gente de todo lugar. Tenho a impressão que existem fotografias de crianças de todo estado e de tudo quanto é canto, montado no famoso cavalo da Casa Zebu. Quando se fala em Itapetininga e do seu comercio, se fala no cavalo da Casa Zebu.

 

Esse cavalo tem uma história interessante. Em 1918, quando começou a Casa Zebu, papai e o sócio Alcindo pensaram numa figura que chamasse a atenção dos fregueses. Então papai encomendou, por duzentos contos de réis, de um artesão Alemão, que morava na vila Santana, um boi e um cavalo de madeira. O artesão era um artista e já havia feito alguns trabalhos para outras cidades. No entanto, a confecção dos dois animais seria demorado. Ele fez o cavalo e o entregou.  Quando começou a fazer o boi Zebu, ele foi cometido de uma pneumonia muito forte, e sem condições melhores de tratamento, veio a falecer. A casa Zebu acabou ficando apenas com o cavalo, e pra não ficar muito chato, papai mandou pintar na frente da loja, um boizinho Zebu. Mas, na verdade, o que realmente marcou foi o cavalo.

 

Esse cavalo envolvia a garotada e os adultos mais supersticiosos. Basta dizer que esse cavalo foi fazer parte da exposição do folclore em São Paulo, ali próximo da Igreja da Consolação. Foi um negocio pra transportar o cavalo, pra não estragá-lo. E quando saiu da Casa Zebu, deu a impressão de que estava saindo um parente que tinha falecido. Foi uma tristeza total. A Casa Zebu ficou pelada sem o cavalo. Tudo isso só pra você ter uma idéia da força do cavalo dentro da casa Zebu.  Chegando em São Paulo, alguém falou que, pegando crina do cavalo é casamento na certeza.  Assim espelhou-se o boato e começou a aparecer gente de tudo quanto é canto do estado de São Paulo. Até o jornal o Estadão publicou quase uma pagina sobre o cavalo. Então começaram a tirar sua crina. O pobre cavalo voltou para Itapetininga sem rabo, sem crina, sem nada. Chegou pelado. Na época a gente ate brincava: “olha teve gente que ganhou dinheiro. Tirava dois, três fios. Picava em pedacinhos e vendia”.

 

Posteriormente essa sociedade foi desfeita. O Alcindo foi estudar na Europa e passou sua parte para o meu irmão Gumercindo Soares Hungria Filho. Depois para meu cunhado Rubens Brasi e finalmente para o meu sobrinho José Rubens Brasi. 

Depoimento de

Roberto Soares Hungria

 


Um Cavalo Especial

 

Donzela ou mancebo, solteiros que alisassem a cauda conseguiriam casamento; adolescentes ou crianças ou adultos após terem montado em seu dorso seriam contemplados com boas notas nos estabelecimentos escolares que cursavam; todos aqueles que por vários minutos contemplassem comovidamente o animal, soberbo e altivo, estariam fadados a uma felicidade infinita, em todos os aspectos de suas existências. O fato e lenda que misturaram numa simbiose romântica durante quase sete décadas constituíram-se em permanente alegria dos itapetininganos de quatro gerações, que tiveram a oportunidade de conhecer, tatear, admirar e comentar o famoso cavalo da antiga Casa Zebu

 ISAAC, Alberto.

O Cavalo da Zebu...

Correio de Itapetininga - 10 – 16 de dezembro de 2005


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JOSÉ LUIZ NOGUEIRA

 

 

 

 




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