GENEALOGIA - JOSÉ LUIZ NOGUEIRA 
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ELLE E LUI - UM PONTO DE CONTESTAÇÃO
ELLE E LUI - UM PONTO DE CONTESTAÇÃO

Venho de uma família de mascates e comerciantes. Tudo começou com meu avô, Salomão Abib, conhecido comerciante de tecidos que chegou a Itapetininga em 1910. Desde menino, com meus oito anos, sempre freqüentava a loja e o ajudava colocando ternos na fachada, que era a grande vitrine, e distribuindo panfletos às pessoas que chegavam de ônibus no mercado municipal. Isso nos anos cinqüenta. A loja me fascinava. Lembro da enorme quantidade de estoque de tecidos, ternos, camisas e a pequena sala onde meu avô fazia o molde de camisas, calças e até mesmo paletós. Esses moldes serviam para uma produção em pequena escala já que o forte mesmo era o manufaturado. Ali aprendi como fazer o molde.  A loja do meu avô ficava num local, rua Aristides Lobo, onde tenho a impressão se localizava a colônia árabe da cidade. Lembro de morarem e negociarem nas proximidades o seu José Nagib, a família Gataz, a família Salem e outras. Tinha também o seu Moshe que, apesar de judeu, tinha uma convivência fraterna com os árabes. Seus filhos estavam sempre presentes na casa do meu avô.

 

Dada a necessidade de estudos acabamos indo para São Paulo com o objetivo de fazer cursinho e faculdade. Lá, nos envolvemos no movimento estudantil e quando foi decretado o Ato Institucional número 5, ficamos muito apavorados. Numa dessas conversas de alternativas futuras, com o Celso Prado, na República em que a gente morava, surgiu a idéia de abrir uma loja.  Só que, em uma das nossas vindas para cá, em finais de semana, meu Tio José Abib, nos convenceu a instalar essa loja aqui em Itapetininga já que por aqui tudo era mais fácil, inclusive para arrumar capital. Como o Celso não quis continuar, acabei inaugurando, sozinho, a loja que se chamava “Elle et Lui”. Acredito que esse foi o meu primeiro passo para o comércio e de certa forma acabei contribuindo para uma modernização da atividade em nosso Município já que o foco da loja era o que tinha de mais moderno em São Paulo e no Rio de Janeiro. Coisas totalmente inovadoras.

 

Com essas características não tenho dúvidas que a “Elle et Lui” foi a primeira butique da cidade. Essa responsabilidade também trouxe desafios, como a da comunicação da loja. Optei pela propaganda em rádio. Um pouco antes, como sempre sonhei em seguir carreira de publicitário, tive o prazer de conhecer em São Paulo o Oliveira Neto, que na época fazia a propaganda da Bozano. Ele fez a locução e nós um novo tipo de mensagem destinado à nossa geração. Assim em todo o lançamento da Boutique lá estava Oliveira Neto e o moderno texto elaborado. O sucesso foi total.  Descobrimos a potencia e a eficiência do rádio.  Acho que realizei parte de meu sonho com a Elle et Lui. 

 

A “Elle e Lui” ficava na rua José Bonifácio, que embora fosse uma rua estreita ainda circulavam carros. Hoje é Calçadão. Quando foi inaugurada, embora a idéia fosse de fazer um encontro mais familiar, acabamos, realizando um grande desfile de modas com a participação de modelos profissionais da capital. A Rua foi fechada e personalidades marcantes do Município, o padre, o prefeito e outros, estiveram presentes. Era uma loja pequena, mas importante pelo seu novo conceito.

 

A boutique era mais do que aquela loja moderna da Rua José Bonifácio. Ela apresentava aquele ar de juventude e de contestação. A nossa propaganda era dirigida a isso.  Aos sábados a gente chamava os amigos e clientes para tomar um aperitivo e conversar. Ali teve início um novo pulsar da juventude que passou a compartilhar, com indignação, o que ocorria no país e no mundo.  Isso se expressava na moda e no comportamento. Sempre usávamos calça de tergal e de repente começamos a usar calça brim, as famosas calças Lee. Depois a calça desbotada. Nós fomos os primeiros a vendê-las por aqui. É bom lembrar que vínhamos de famílias conservadoras, estudantes do Colégio Imaculada Conceição. De repente o cabelo ficou enorme e a barba era uma homenagem a Che Guevara. Todo esse espírito a loja assumia. Tinha alto falantes dirigidos para a rua onde se tocavam músicas de protesto e dos conhecidos festivais da Record. Tudo aquilo agitava aquela geração que estava precisando de um apoio de alguém. Nós fazíamos esse papel de solidários a todos que queriam entender aquele momento que estavam passando. 

 

Durante dois anos e meio fiquei a frente da Elle et Lui. Como a maioria dos jovens, passei, também, por um período de transformação e amadurecimento. Decidi retornar para São Paulo para recomeçar a vida. Depois de um tempo longe do comercio, descobri que minha vocação era mesmo roupa. Daí, do nada, surgiu a idéia de montar uma pequena fábrica. Seu nome era Aliocha, um dos personagens da literatura Russa. Homenageávamos a Rússia, que eu era apaixonado na época, e dava um viés assim mais moderno para uma confecção que estava começando.

 

A Aliocha ficava no bairro de Pinheiros e o primeiro produto que a gente lançou, no mercado, foi um lenço de cabeça com algumas medalhas. Foi um sucesso de vendas. Terceirizamos a produção e as vendas cresciam. Fui a Europa e Estados Unidos em busca de novidades. Dessa viagem o único produto que trouxe foi uma blusa de inverno que homenageava as universidades americanas. Fiz uma peça piloto e com um mostruário saí vender. O modelo da Aliocha explodiu nas vendas naquele inverno de 1977. Colocamos a cara no mercado e isso deu muita estabilidade para a empresa.

 

A “Elle et Lui” e a Aliocha foram marcantes em minha vida. Ensinaram-me muito. Com elas descobri a importância de ser solidário, de dividir responsabilidades e trabalho, de acreditar no potencial das pessoas.

 

Depoimento de

José Roberto Leonel

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